sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Avanços da luta contra o câncer

07/05/09 - 16h37 - Atualizado em 07/05/09 - 16h37

Avanços da luta contra o câncer foram relativamente modestos em 40 anos
Taxas de mortalidade caíram apenas 5% nas últimas décadas.
Situação é pior para pacientes que lidam com volta do tumor.

Em 1971, seguindo o sucesso americano de colocar um homem na Lua, o presidente Richard Nixon anunciou um novo objetivo. O câncer seria curado até 1976, o bicentenário da independência americana. Quando 1976 chegou e se foi, a data para uma cura, ou pelo menos algum progresso substancial, continuou sendo postergada. Aconteceria em 2000, depois em 2015. Agora, o presidente Barack Obama, discutindo seus planos para a saúde, prometeu encontrar “uma cura” para o câncer em nosso tempo. Ele disse que, como parte do pacote de estímulo econômico, aumentaria em um terço, pelos próximos dois anos, o dinheiro federal dedicado à pesquisa da doença.




A americana Phyllis Kutt, que está se tratando de um câncer há quase um ano (Foto: C.J. Gunther/NYT)

O câncer sempre foi uma prioridade cara. Desde que a guerra contra a ele começou, o National Cancer Institute, maior entidade governamental de pesquisa sobre a doença nos EUA, com 4.000 funcionários, gastou sozinha 105 bilhões de dólares. Outras agências, universidades, companhias farmacêuticas e filantrópicas aumentaram esse valor em incontáveis bilhões. Ainda assim, as taxas de mortalidade pelo câncer nos Estados Unidos, ajustadas para tamanho e idade da população, caíram apenas 5% de 1950 a 2005. Em contraste, a taxa de mortalidade por doenças cardíacas caiu 64% no mesmo período, e para a gripe e a pneumonia a queda chegou a 58%.

Mesmo assim, a percepção, alimentada pela profissão médica e seus marqueteiros, além do sentimento popular, é que o câncer pode, quase sempre, ser evitado. Se isso falhar, ele pode ser eventualmente tratado, e até mesmo derrotado.

A boa nova é que muitas pessoas, cujos cânceres não se espalharam, vivem bem como no
passado. Em alguns casos, a exemplo do câncer de mama precoce, medicamentos introduzidos na década passada tornaram um prognóstico ainda melhor. Alguns cânceres raros, antigamente capazes de matar com rapidez, como a leucemia, podem ser controlados por anos com novos medicamentos. Tratamentos atuais contra o câncer tendem a ser menos pesados. A cirurgia é menos desfiguradora e a quimioterapia é menos debilitante.

Todavia, as dificuldades surgem assim que o câncer se espalha, e muitas vezes isso já aconteceu na época do diagnóstico. Isso vale tanto para os cânceres mais comuns quanto para os raros. Com o câncer de mama, por exemplo, apenas 20% dos diagnosticados como metástase – um câncer que se espalhou para fora dos seios, como para os ossos, cérebro, pulmões ou fígado – vivem cinco anos ou mais. Este número é praticamente igual ao do início da guerra contra a doença.

Com o câncer colorretal, apenas 10% com metástase sobrevivem cinco anos. Esse dado também seguiu inalterado durante as quatro últimas décadas. O número é, há muito tempo, 30% para câncer de próstata metastático, e fica em apenas um dígito no câncer de pulmão.

Prevenção lenta
Quanto à prevenção, o progresso tem sido dolorosamente lento. Apenas algumas poucas coisas – parar de fumar, por exemplo – fazem diferença. Apesar das reclamações do mercado, rigorosos estudos de métodos de prevenção, como dietas ricas em fibras e baixas em gordura, vitaminas e selênio, fracassaram em encontrar um efeito.

O que aconteceu? Seria o câncer apenas um problema impossível de se resolver? Ou os Estados Unidos são o único país a investir tanto em pesquisas sobre a doença, realizando erros fundamentais na maneira pela qual combate nessa guerra?

Pesquisadores dizem que a resposta é “sim” nos dois casos. O câncer é difícil – não é apenas uma doença, e se é, ninguém ainda descobriu o elo fraco nas células do câncer capaz de desenvolver uma cura. Ao invés disso, segundo os pesquisadores, quanto mais eles estudam o câncer, mais complexo ele parece. Muitos são ajudados pelos recentes progressos em biologia molecular de câncer, mas confessam que ainda têm um longo caminho a trilhar.

Existem também os obstáculos desnecessários. A pesquisa se arrasta de manias em manias – vírus de câncer, imunologia, genômica. Grupos de apoio intervieram e direcionaram as pesquisas para caminhos que nem sempre trouxeram avanços à ciência. Mesmo com todo o dinheiro que jorra da pesquisas contra a doença, nunca houve o suficiente para estudos inventivos, o tipo fundamentalmente capaz de alterar como os cientistas entendem o câncer ou como os médicos o tratam. Tais estudos são arriscados e oferecem menos chances de funcionar do que aqueles mais incrementais. O resultado é que, com dinheiro limitado, projetos inovadores saem perdendo para projetos de sucesso mais confiável que buscam pequenas alterações em tratamentos, talvez prolongando a vida em apenas algumas semanas.

Fatos cruéis
Porém, os fatos cruéis sobre o câncer podem se perder entre mensagens positivas da mídia de notícias, grupos de apoio e centros médicos – e até mesmo de rótulos em alimentos e suplementos, que dizem ter alguma ação para combater ou prevenir o câncer. As palavras tendem a ser cuidadosamente formuladas, mas a impressão deixada é inegável e bem-vinda: o câncer é evitável se você simplesmente se alimentar corretamente e fizer exercícios. Se você fizer exames regularmente, os cânceres podem ser pegos bem cedo e quase certamente serão curados. Se por alguma grande sorte seu câncer for potencialmente fatal, novos tratamentos

miraculosos poderiam curá-lo ou transformá-lo numa doença gerenciável. Infelizmente, como muitas pessoas com câncer já aprenderam, a imagem nem sempre é tão brilhante.

Phyllis Kutt, 61, professora aposentada de Cambridge, Massachusetts, acreditava nas
propagandas e anúncios de serviço público. Ela pensava que nunca teria câncer – afinal, é vegetariana, faz exercícios, não tem sobrepeso e não fuma. Além dessas características, apenas duas pessoas em seu histórico familiar já tiveram a doença.

Então, em maio de 2006, a mamografia de Kutt mostrou um ponto enevoado. O radiologista o interpretou como insignificante, mas seis meses depois, seu residente encontrou um caroço do tamanho de uma noz em seu seio direito, próximo de sua axila. Era exatamente a área enevoada de sua mamografia. "Entrei em verdadeiro choque”, disse Kutt. “Como isso podia acontecer comigo?”

Mesmo assim, parecia que ela ficaria bem. Não havia sinais de câncer em seus nódulos
linfáticos, então seu cirurgião removeu o tumor. Mesmo assim, Kutt, seu marido e seu
oncologista estavam preocupados. Eles decidiram pelo tratamento agressivo – quatro meses de quimioterapia seguidos de 33 sessões de radiação. Quanto tudo terminou, ela achou que estaria livre do câncer. “Meus médicos nunca usaram a palavra ‘cura’ e eu os abençoo por isso”, disse Kutt. “Mas eles comemoraram o fim da quimio, e também comemoraram o fim da radiação”.

Em maio último, o câncer voltou, como uma sequência de pequenos caroços sob seu braço e mais um em seu bíceps. Leituras de tomografia computadorizada revelaram que ela também tinha tumores nos pulmões. Mas o câncer tem cura, pensou ela. Existem espetaculares tratamentos novos. Então, ela descobriu o contrário.

Sem cura?
Acontece que, com algumas exceções, principalmente cânceres infantis e o câncer testicular, não existe cura para o câncer uma vez que ele se espalhou. O melhor que se pode fazer é mantê-lo parado por algum tempo. Em junho passado, Kutt começou um novo regime – três semanas de quimioterapia, seguidas de uma semana de folga. Ela também está tomando um novo medicamento, o Avastin.

“Ainda estou tomando isso e tomarei sem parar até que o câncer avance e eu mude para outro remédio. Ou até algum medicamento ser desenvolvido, ou eu morrer”, disse ela. A parte mais difícil é explicar a amigos e à família. “As pessoas dirão para mim, ‘Então quando seu tratamento termina?’” disse Kutt. “Essa é a percepção. Você faz um tratamento. Você o termina. Você está curado."

O Dr. Leonard Saltz, um especialista em câncer no cólon, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, lida com impressões equivocadas a todo o tempo. “As pessoas muitas vezes vêm a nós esperando que os remédios mais novos possam curar câncer metastático espalhado”, disse ele. “Elas frequentemente ficam chocadas ao descobrir que a mais nova tecnologia não é uma cura."

Uma razão para o mal-entendido, disse ele, são as palavras utilizadas pelas companhias farmacêuticas e pesquisadores sobre o câncer. “Algumas vezes por acidente, outras não, algumas vezes com as melhores intenções, outras não, podemos pintar uma imagem que é exageradamente rosada”, disse ele. Como um médico que tenta ser honesto com os pacientes, Saltz diz ver a atração das ilusões.

“Seria muito duro e insensível dizer, ‘Tudo que tenho é um medicamento que custará 10 mil dólares por mês e lhe dará um benefício de sobrevivência médio de um mês ou dois’”, disse ele. “Os detalhes são muito, muito violentos para se lidar”.

Isso não ajuda Kutt, irritada com a maneira pela qual o câncer de mama é apresentado – a celebração dos sobreviventes, a ênfase sobre a detecção prematura, como se isso fosse assegurar um não desenvolvimento de um câncer incurável.

Ela sabe que assusta pessoas com sua cabeça careca, tão obviamente uma paciente de câncer.

Quando alguém passeia de muletas com um tornozelo quebrado, estranhos oferecem suas
condolências e perguntam sobre o ferimento. Entretanto, as pessoas desviam a visão quando olham para Kutt. Apenas uma vez, segundo ela, um estranho se aproximou. Era uma mulher que também já havia tido câncer de mama.

Em seu grupo de discussão online para mulheres com doenças metastáticas, algumas contaram que foram expulsas de grupos de apoio a pessoas com câncer de mama. Os membros cujo câncer não havia se espalhado se consideravam sobreviventes, e aquelas com cânceres espalhados representavam uma lembrança amarga demais do que pode acontecer. “É o medo”, disse Kurt.

“Você faz parte do grupo da morte."



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