quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ebola tem expansão mais lenta em comparação a outras doenças


Ebola tem expansão mais lenta em comparação a outras doenças


Cada paciente infecta, em média, outras duas pessoas, segundo a OMS.
Risco de epidemia se alastrar no Brasil é 'quase zero', dizem especialistas.

Desde o início do ano, a pior epidemia de ebola da história já infectou 9.216 pessoas, das quais 4.555 morreram, segundo dados oficiais. A transmissão é intensa em três países da África Ocidental: Libéria, Guiné e Serra Leoa. A velocidade de expansão da doença, porém, é mais lenta se comparada à de doenças transmitidas de outras formas.



“No ebola, não é o número de casos em si que assusta”, diz o médico Luiz Fernando Aranha Camargo, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Para efeito de comparação, ele cita o exemplo da malária, transmitida pela picada do mosquito Anopheles. A doença infectou 207 milhões de pessoas em 2012, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), matando cerca de 627 mil pacientes, principalmente na África Subsaariana.
Ele cita também a pandemia de H1N1, que se transmite pelo ar. Entre meados de 2009 e de 2010, houve 284,5 mil mortes pela doença, de acordo com estimativas de um estudo publicado na revista científica “The Lancet Infectious Diseases”.
A expansão mais “lenta” do ebola deve-se ao fato de a contaminação só ser possível pelo contato direto com fluidos corporais dos pacientes infectados, e não pelo ar ou por picadas de mosquito. Nos países onde há transmissão intensa de ebola, cada paciente infecta, em média, outras duas pessoas, de acordo com estimativas da OMS.
Em doenças como a rubéola ou a catapora, caso não haja nenhuma medida de proteção como vacinas ou isolamento, cada paciente pode infectar de 8 a 16 outras pessoas. (Veja, no infográfico ao lado, como o ebola se espalha, em comparação com essas duas outras doenças.)
“Em doenças transmitidas por vetor, como a malária, esse índice pode ser maior do que 100”, acrescenta o infectologista Marcelo Nascimento Burattini, professor da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Particularidade desta epidemia
“O problema do ebola, que levou a toda essa repercussão, é, em primeiro lugar, a mortalidade alta. Em segundo lugar, a ausência de tratamento específico. Em terceiro lugar, a grande dificuldade de controle no lugar em que está ocorrendo”, observa Camargo.
Segundo o especialista, a epidemia pode ter sido subestimada no início porque epidemias anteriores eram contidas com certa rapidez e houve uma confiança de que esse padrão se repetiria. “O que aconteceu diferente é que foi em uma região densamente povoada. No passado, aconteceu em lugares mais isolados. A concentração relativamente alta em uma tríplice fronteira, onde a movimentação é muito frequente, dificultou a contenção da doença.”

Preparo do Brasil
De acordo com especialistas, o risco de haver uma epidemia de ebola no Brasil é “quase zero”. Enquanto sempre há risco de que pessoas vindas de países onde há transmissão intensa venham a manifestar os sintomas da doença no Brasil, a resposta do país a essa situação provavelmente seria capaz de conter a expansão do vírus.
As medidas tomadas pelo governo diante de um caso suspeito, identificado este mês em Cascavel, no Paraná, foram consideradas adequadas pelos infectologistas.
"A gestão do caso foi muito bem feita. Funcionou muito bem, a suspeita foi identificada, o paciente foi transferido para o Rio de Janeiro e o resultado saiu rápido”, diz Camargo. Ele acrescenta que, agora, é preciso discutir detalhes mais minuciosos, como a criação de um protocolo nacional de como os profissionais devem retirar os equipamentos de proteção e o que fazer com esse material depois do uso.
“É preciso colocar a epidemia no lugar certo e diminuir o alarde da população. Não se transmite ebola pelo ar, ninguém vai pegar andando na rua. Depende de um contato íntimo com o doente e os doentes estão concentrados em uma região específica”, diz Camargo.
Transmissão
O ebola é uma doença infecciosa grave provocada por um vírus. Os sintomas iniciais são febre de início repentino, fraqueza intensa, dores musculares, dor de cabeça e dor de garganta. Depois vêm vômitos, diarreia e sangramentos internos e externos. Ela é transmitida pelo contato direto com os fluidos corporais da pessoa infectada: sangue, suor, saliva, lágrimas, urina, fezes, vômito, muco e sêmen. Não há risco de contaminação pelo ar.
Quem tiver voltado de um dos países da África afetados pela epidemia - Libéria, Guiné ou Serra Leoa - e apresentar febre ou algum dos outros sintomas, deve procurar uma unidade de saúde e informar a equipe sobre a viagem. Dúvidas sobre a doença podem ser tiradas com o Disque Saúde, do Ministério da Saúde, no número 136.
Números da epidemia
Desde março, foram registrados casos de ebola em sete países. Dois desses países, Nigéria e Senegal, já estão livres da doença. Veja, abaixo, detalhes dos locais com casos de ebola:

Guiné: Foram 1.519 casos - entre confirmados, prováveis e suspeitos - e 862 mortes provocadas pelo ebola.

Libéria: Foram 4.262 casos - entre confirmados, prováveis e suspeitos - dos quais 2.484 levaram a mortes.

Serra Leoa: Foram 3.410 casos - entre confirmados, provaveis e suspeitos - e 1.200 mortes pela doença.

Espanha: Houve um caso da doença e a paciente se recuperou.

Estados Unidos: Foram três casos diagnosticados no país: um paciente morreu e duas permanecem internadas.

Nigéria: Foram 20 casos de ebola - entre confirmados e prováveis - que levaram a 8 mortes. O país já está livre da doença.

Senegal: Houve apenas um caso da doença e o paciente se recuperou. O país já está livre da doença.


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