quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Internet ajuda fãs de RPG de mesa a manterem vivos hábitos de jogatina


Internet ajuda fãs de RPG de mesa a manterem vivos hábitos de jogatina

Ferramentas online facilitam a vida de grupos de RPG que não tem tempo para se reunir

Criado nos EUA cerca de 40 anos atrás, o Role-Playing Game, ou RPG, é a inspiração assumida para muitos games modernos, como "The Witcher 3", "World of Warcraft" e "Final Fantasy", entre outros.


No Brasil, os RPGs ganharam espaço em meados dos anos 1990, quando a Devir Livraria e a Abril Jovem investiram pesado no segmento, publicando jogos como "Advanced Dungeons & Dragons", "GURPS" e "Vampiro: A Máscara". Nas bancas de revista, os fãs encontravam publicações como a Dragão Brasil, Dragon Magazine e a Dragão Dourado.

Os fãs se reuniam em livrarias, lojas de jogos e espaços públicos (como o Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo) ou em Convenções, como o Encontro Internacional de RPG, que já foi palco de grandes lançamentos no mercado editorial brasileiro.

Hoje, esses jogadores cresceram e ainda que tenham o poder aquisitivo para comprar todos os livros de regras e cenários que desejarem, muitos lutam contra o tempo limitado para continuar jogando. O RPG é um passatempo coletivo, que envolve se reunir com amigos para jogar - e se na adolescência arranjar tempo é o menor dos problemas, o mesmo não pode ser dito na hora de conciliar as agendas de 4 ou 5 adultos.

Para contornar o problema, os jogadores usam ferramentas como o Roll20, que cria uma mesa de jogo completa, com mapas, miniaturas, fichas de personagem e rolagens de dados, toda digital e fácil de usar. O sistema conta também com suporte para comunicação por vídeo e voz, eliminando a necessidade de usá-lo em conjunto com outros programas.

A versão básica do Roll20 é gratuita, mas você pode comprar novas miniaturas e cenários para suas partidas na página do programa - muito desse conteúdo é criado por artistas da própria comunidade de usuários. Há uma versão paga que custa entre US$ 50 e US$ 100 por ano e permite criar fichas personalizadas e acesso à um catálogo maior de miniaturas, cenários e até funções ainda em desenvolvimento (como luz dinâmica para os mapas).

"Eu pessoalmente acho que nada vai de fato substituir a interação cara a cara, a coisa de papel, lápis, dados físicos", diz Felipe Della Corte, que usa o Roll20 nas partidas do grupo RPG das Minas. "Mas é uma opção ótima para juntar grupos com problemas de distância e horário".

Ferramentas desse tipo são uma evolução dos clássicos "play by e-mail" e "play by fórum" e estão disponíveis para computador e tablets.


Dungeons & Dragons na realidade virtual

Dando um passo além nas sessões digitais de RPG, a empresa norte-americana AltspaceVR fechou uma parceria com a Wizards of the Coast para publicar conteúdo licenciado de "Dungeons & Dragons" em um ambiente de realidade virtual através do Oculus Rift.

Com o aplicativo da Altspace, os jogadores se reúnem em uma taverna virtual e se sentam juntos ao redor da mesa de jogo, eliminando a distância entre os membros do grupo. É possível montar mapas elaborados de masmorras, cenários urbanos, florestas e, claro, posicionar as miniaturas dos personagens e dos monstros nesses tabuleiros digitais - tudo como numa mesa de RPG de verdade.

Em 40 anos, esta é a primeira vez que "Dungeons & Dragons" pode ser jogado oficialmente na realidade virtual.

Se você é o proprietário de um Oculus Rift, pode experimentar a versão completa da ferramenta de "Dungeons & Dragons" da Altspace VR através deste link :

Games online vs. mesas de jogo

O apelo do RPG eletrônico, seja um jogo online como "WoW" ou uma aventura solo como "Fallout 4", parece irresistível: jogar a qualquer hora, sem se preocupar em organizar a aventura, estudar dezenas de páginas de regras e ambientação, sem a necessidade de um narrador... como o RPG "de mesa" pode competir com essas facilidades?

"Não é uma competição", é o que diz Marcelo Cassaro, autor do RPG "Tormenta", roteirista da "Turma da Mônica Jovem", e um dos criadores da revista Dragão Brasil.

Reprodução/Facebook

"Eu mesmo, e a maioria dos RPGistas, gostamos de games online mirabolantes. Mas é verdade que RPGs têm qualidades que faltam a outros jogos. Mesmo o mais vasto e customizável game online nunca será capaz de conter 'tudo' aquilo que você quer, enquanto RPGs acomodam qualquer coisa que você imaginar, qualquer personagem, qualquer situação. O RPG atrai os criativos, os inventivos, aqueles que não se conformam apenas com 'coisas prontas' e querem liberdade completa".

Já o jornalista Bernardo Queiroz, que joga RPGs como "Pathfinder" e "Mago: A Ascensão" com um grupo de amigos duas vezes por mês, acredita que a competição é cruel, mas pende para o lado dos jogos de mesa. "Mesmos quando um MMO ou game de console é jogado em grupo, é uma interação não presencial. RPG é mais parecido com a pelada do fim de semana, no sentido que exige que as pessoas saiam de casa, se reúnam num dia e horário marcado. Existem sistemas digitais que permitem que se jogue via internet, mas boa parte da zona da mesa de jogo se perde na tradução".

Para Bruno Tourinho, analista de sistemas de Cuiabá (MT), a falta de tempo para reunir os amigos e jogar foi o principal motivo para se interessar pelos RPGs online. "Jogar no PC foi um caminho natural", conta Bruno. "Assim, posso jogar sem precisar de toda a preparação de uma sessão de 'Dungeons & Dragons', por exemplo. E posso juntar os amigos e jogar online, independente da distância".

Online ou ao redor da mesa, reunir os amigos e se divertir é um ponto em que todos concordam. "O segredo é não pensar em 'grupo de jogo', e sim em 'seus amigos'", explica Cassaro. "É menos sobre um jogar, conduzir campanhas, e mais sobre estar com pessoas importantes para você. Então você vai achar tempo [para jogar]".


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